sexta-feira, 16 de maio de 2008

UMA NOVA MATRIZ DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL

Vamos partir da idéia de que sustentabilidade é o novo nome do desenvolvimento quando esse conceito é tomado de um ponto de vista sistêmico. Desse ponto de vista o (fenômeno de mudança social que interpretamos como) desenvolvimento é resultado da interação de vários fatores.

Na “equação do desenvolvimento”, para dizer assim, comparecem muitas variáveis, para além daquelas tradicionalmente consideradas pelo pensamento econômico ortodoxo (como a renda e a riqueza). Vários capitais, em sentido metafórico, foram então aventados para descrever esses fatores ou variáveis extra-econômicas, considerados como externalidades, como o capital natural, o capital humano e o capital social. Um modelo do desenvolvimento baseado na interação desses vários capitais pode fornecer uma boa matriz explicativa da sustentabilidade empresarial. Vejamos.

Em termos muito simples, pode-se dizer que sustentabilidade é a capacidade de investir no (para repor o) que se consome em termos de desenvolvimento. Considerando que a equação do desenvolvimento tem como fatores ou variáveis diversos tipos de recursos, econômicos e extra-econômicos, trata-se de investir nesses diversos tipos de capitais (stricto e lato sensu); ou seja, no capital financeiro (renda, produto), no capital físico (riqueza, propriedade produtiva), no capital natural (meio ambiente), no capital humano (empreendedorismo individual, educação, saúde etc.) e no capital social (cooperação, empoderamento promovido pelas redes sociais e liberdade ensejada pela democratização das relações). Tratar-se-ia, portanto, de fazer diferentes tipos de “poupanças” nestes cinco fatores. A tabela abaixo ilustra a matriz:



A partir dessa matriz poderíamos concluir que onde o Resultado da diferença Produção + (mais) Aquisição – (menos) Consumo for negativo é necessário: i) aumentar a produção (própria) ou a aquisição; ou ii) reduzir o consumo; ou iii) investir (em outros setores) para aumentar a produção ou para reduzir os custos da aquisição.

Ocorre que nem todos os capitais acima podem ser produzidos pela empresa em quantidade suficiente para suprir seu consumo (é o caso dos capitais extra-econômicos) e que, assim, trata-se de reduzir os custos de aquisição investindo nos setores que podem produzi-los em quantidade maior do que consomem para poder usar os excedentes.

Se uma empresa tiver que investir recursos financeiros próprios para produzir ou adquirir todo o capital natural, o capital humano e o capital social que consome, é óbvio que isso afetará negativamente o seu resultado financeiro. Como conseqüência, ela gerará menos lucros para os seus acionistas e terá mais dificuldades de remunerar melhor seus colaboradores. É por essa razão que uma empresa de inovação tecnológica tem mais chances de sustentabilidade se estiver instalada em Berkeley do que em Caruaru (Berkeley tem mais capital humano do que Caruaru). Ou que uma empresa de seguros terá mais chances de sustentabilidade em Berna do que em Vitória do Espírito Santo (Berna tem mais capital social do que Vitória).

Caberia cuidar para que os resultados na tabela acima fossem positivos, não apenas no tocante às colunas dos capitais econômicos (capital financeiro e capital físico) e sim também no que se refere às outras colunas, daqueles capitais extra-econômicos, que têm a ver com o ambiental (capital natural), com o social e com o político (capital humano e capital social).

Não se trata necessariamente de gerar superávits cada vez maiores de todos os tipos de capitais, mas de encontrar um valor ótimo relativo de cada um deles (ou intervalos de oscilação de cada capital em torno de valores ótimos relativos). Essa “oscilação regulada”, vamos dizer assim, seria o mecanismo próprio da sustentabilidade.

Dessarte, valores mais baixos de capital humano na empresa poderiam ser compensados por valores mais altos de capital social no seu entorno (na localidade onde a empresa está instalada). E valores mais baixos de capital natural no entorno da empresa poderiam ser compensados por valores mais altos de capital humano (como ocorre em Singapura em relação à Ucrânia, à Argentina ou mesmo ao Brasil – Estados-nações cujo capital natural é muito mais alto do que o daquela florescente cidade-Estado do sudeste asiático (conquanto ela mesma seja uma singularidade, na medida em que possui um sistema autocrático); no entanto, Singapura, ao contrário dos outros países citados aqui, está na ponta da inovação mundial).

É óbvio que essa matriz é imperfeita porquanto não revela as relações entre os diversos tipos de capitais que interagem necessariamente entre si e nem os fatores que devem ser considerados na composição de cada tipo de capital. Trata-se apenas de uma matriz demonstrativa, mais de natureza qualitativa do que quantitativa e que foi elaborada para efeitos explicativos, não podendo servir de base para a realização de qualquer espécie de contabilidade da sustentabilidade.

Além disso, a matriz apresentada acima é imperfeita por uma razão mais profunda: ela iguala os diversos tipos de capitais, como se fossem entes de mesma natureza ou com o mesmo status, o que não combina com o que já sabemos sobre o capital social (ou sobre as redes sociais). Os investimentos em capital social têm um efeito sistêmico sobre os demais fatores e, assim, ao fazer a sua “contabilidade” estamos, na verdade, aferindo a capacidade do conjunto de se desenvolver.

A despeito dessas imperfeições, a matriz proposta, mesmo que não revele, permite a percepção de relações que outros modelos explicativos não ensejam, não impedindo, ademais, que se atribua ao capital social o papel sistêmico que ele desempenha. Em outras palavras, com a ajuda de uma matriz como essa podemos começar a explicar as coisas, encarando aqueles por quês que raramente são respondidos.

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