sexta-feira, 16 de maio de 2008

SOBRE A RESPONSABILIDADE POLÍTICA

No post O DESAFIO DO EXERCÍCIO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL E POLÍTICA afirmamos que até agora nossas empresas tiveram uma atuação política, vamos dizer assim, pouco responsável. Pensaram nos seus próprios interesses imediatos, pensaram no que seria “bom para os negócios” no curto prazo, quer dizer, não pensaram em termos de sustentabilidade.

Até agora o setor empresarial vem atuando na política, de modo disfarçado (ou nunca completamente assumido) por três vias principais: a) financiando candidaturas para garantir a boa-vontade dos representantes eleitos e a sua sintonia com as necessidades setoriais (por exemplo, da indústria, do comércio, da agricultura, dos transportes e dos serviços financeiros); b) articulando bancadas parlamentares que defendam os interesses do empresariado; e c) encomendando (com certa dose de ingenuidade) estudos de alto nível sobre os grandes impasses estratégicos do país e ofertando tais estudos às autoridades.

É verdade que têm surgido, recentemente, algumas ações mais consistentes e mais promissoras. Uma parte, ainda pequena, do empresariado, vem procurando influir na pauta política a partir da mobilização empresarial de forças sociais expressivas, entendendo que tais forças não podem ser arregimentadas somente dentro das fronteiras das organizações corporativas patronais ou empresariais. Outra parte, também bastante minoritária ainda, vem procurando mobilizar a sociedade em torno de uma agenda estratégica que, partindo da defesa da democracia e do desenvolvimento, às vezes consegue chegar ao detalhamento de propostas concretas para a reforma fiscal, para a segurança jurídica, para a segurança pública, para a infra-estrutura, para a educação, para a governança pública e para as reformas política e administrativa.

Mas o empresariado – no Brasil e em outros países – ainda está longe de assumir completamente a sua responsabilidade política. Para tanto seria necessário que aprendesse a articular politicamente os seus interesses e, sobretudo, as causas de suas empresas, sabendo que empresas em uma realidade social complexa não têm como abrir mão da política. E que conseguisse também exercitar, permanentemente (e não apenas em épocas eleitorais), uma legítima ação política empresarial, que vai além, muito além, da defesa de interesses corporativos, por mais justos que sejam (pois se o setor empresarial não assumir protagonismo, falando para os outros dois setores – para o primeiro setor (o Estado) e para o terceiro setor (a Sociedade Civil) – não se transformará em um ator político capaz de tomar iniciativas para construir arranjos mais virtuosos entre os diversos atores desses setores).

Mas, além disso, seria necessário que as empresas promovessem uma verdadeira reinvenção organizacional, para adequar a sua estrutura e o seu funcionamento aos novos desafios da sustentabilidade (o que implica mudar os seus padrões de organização – iniciando a transição da velha empresa-mainframe para a nova empresa-rede que será, sem dúvida, a empresa do futuro – e mudar também os seus modos de regulação de conflitos, democratizando progressivamente suas regras de funcionamento e seus procedimentos internos e externos).

Por último, seria necessário que a empresa promovesse projetos sustentáveis ou programas de sustentabilidade, pois não é apenas pagando impostos, gerando empregos e produzindo riquezas, protegendo o meio ambiente e tentando melhorar a vida das pessoas individualmente, que o setor empresarial poderá cumprir o seu papel promotor do desenvolvimento.

Na verdade, trata-se do seguinte: além de exercer a responsabilidade social de uma nova maneira, a empresa em busca da sua sustentabilidade deve passar da responsabilidade social para a responsabilidade política.

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